MENU



 

 

Comunicação Aplicada 

 

O Blog do CPS

 

 

COMUNICAÇÃO EM PRÁTICA

 

MinisterioDaEconomia-Fachada-01Set2020

 

Wladimir Gramacho

 

 

O ex-ministro Thomas Traumann, também colunista do Poder360, diz que o cargo de ministro da Fazenda do Brasil é “o pior emprego do mundo”, título do livro em que entrevista ex-titulares dessa função. Um novo estudo baseado em dados quantitativos corrobora a afirmação de que, se não tem o pior emprego do mundo, o ministro da Economia (ou da Fazenda) no Brasil passa por muito mais desafios e escrutínio que seus colegas da Esplanada.

 

Uma forma de mensurar a relevância e as dificuldades de cada ministro é por meio de sua exposição na imprensa. A mídia ajuda a alavancar carreiras políticas, da mesma forma que é capaz de sepultá-las ou, no mínimo, dificultar-lhes a ascensão.

 

Para entender as razões de glórias e fracassos de ministros de Estado no Brasil, um grupo de analistas do Centro de Pesquisa em Comunicação Política e Saúde Pública da Universidade de Brasília (CPS-UnB) analisou cerca de 12 mil capas do jornal Folha de S.Paulo publicadas entre 1985 (quando a internet ainda não era onipresente) e 2018 (quando alguns ministros já preferiam escrever no Twitter em vez de dar entrevistas a jornalistas).

 

O levantamento, que cobriu desde o governo José Sarney, primeiro mandato civil após a ditadura militar, até a gestão de Michel Temer, mostra que, entre os 10 ministérios mais citados, os titulares da Economia foram assunto em mais de 40% das citações totais na capa do jornal e das citações negativas, além de terem protagonizado 31% das crises de imagem ocorridas nesse período. Uma crise de imagem é uma superexposição negativa de um ministro por razões de mau desempenho, disputa político-partidária, corrupção, conflito de interesses, abuso de poder ou opinião.

 

Os pesquisadores consideraram que existe crise de imagem sempre que, no intervalo de três dias consecutivos, dois deles – no mínimo – apresentam conteúdo com menção negativa a um determinado ministro. Em ambos os casos, essas menções negativas devem se referir a fatos tematicamente correlatos, isto é, ligados a uma única crise.

 

Os ministros da Economia são campeões de citações (neutras, negativas e positivas) e de crises em quase todos os governos, inclusive quando se analisa a proporção de citações/crises em relação ao número de dias em que o titular permaneceu no cargo. Ao todo, foram 1.179 menções negativas a ministros da Economia, ante 339 da segunda pasta com mais menções negativas (Casa Civil). Por outro lado, o cargo também é o campeão de menções positivas, mas estas são, no geral, muito menos frequentes que as citações negativas ou neutras.

 

Os resultados são eloquentes. Cinco dos dez ministros com mais crises e com crises mais longas foram da Fazenda/Economia. Entretanto, a frequência delas cai drasticamente a partir do governo FHC 1 (1995-1998), quando o Ministério da Fazenda foi apenas a 6ª pasta com mais crises. E, embora volte à primeira colocação no governo Lula 1 (2003-2006), isso se deu muito mais pelos escândalos morais que envolveram a gestão de Antonio Palocci do que por problemas de desempenho – o oposto do padrão observado até o final do governo FHC 2 (1999-2002).

 

Este é, aliás, um dado alentador para os ministros da Economia: 56 das 129 crises que eles atravessaram foram classificadas como problemas de desempenho, 28 como disputas político-partidárias, 11 como corrupção, 7 como crise de opinião, 2 como abuso de poder e 2 como conflito de interesses. O restante foi uma combinação entre mais de um tipo de crise.

 

O padrão observado no banco de dados parece corroborar o título do livro de Traumann. Quase todos os ministros da Economia tiveram quantidade de menções negativas duas vezes maior (no mínimo) do que o número de menções positivas nas capas da Folha. Mas houve três exceções: Marcílio Marques Moreira (governo Collor, 1990-1992), que deixou o cargo com o impeachment do chefe; Guido Mantega (governo Lula 2, 2007-2010), que não obteve o mesmo prestígio no governo seguinte, de Dilma Rousseff; e FHC (governo Itamar, 1992-1994), que deixou o cargo para disputar e ganhar a eleição presidencial, embalado pelo êxito do Plano Real. O exemplo exitoso de FHC, entretanto, parece ser só a exceção à regra.


 Este artigo foi publicado em 1º de fevereiro de 2022 no Poder360.

ATENÇÃO O conteúdo dos artigos é de responsabilidade do autor e expressa sua visão sobre assuntos atuais. Os textos podem ser reproduzidos em qualquer tipo de mídia desde que sejam citados os créditos do autor. Edições ou alterações só podem ser feitas com autorização do autor.